RAFAEL ANDERY
COLABORAÇÃO PARA FOLHA 16/11/2012
Nos últimos dez anos, mais espécies marinhas foram
descobertas pela ciência do que em qualquer outra década da história. Apesar
disso, cientistas estimam que até dois terços das espécies que habitam os
oceanos ainda sejam completamente desconhecidas, afirma estudo recém-publicado
na revista científica "Current Biology".
A publicação americana divulgou hoje em seu site o
lançamento de um censo da vida marinha, criado a partir da colaboração de
diversos cientistas ao redor do mundo.
O Worms (Registro Mundial de Espécies Marinhas) foi
criado a partir do trabalho de 270 estudiosos de 146 instituições, provenientes
de 32 países. O catálogo pode ser acessado gratuitamente através do site http://www.marinespecies.org, e é constantemente
atualizado a partir da descoberta de novas espécies.
A lesma-do-mar "Platybrachium antarcticum" (Russ Hopcroft/AP )
Mark Costello, pesquisador da Universidade de
Auckland (Nova Zelândia) que ajudou na construção do projeto, afirmou que o
trabalho de coleta de dados "não foi tão fácil quanto deveria".
"Um problema encontrado pelos pesquisadores
foi a ocorrência de diferentes nomes e descrições para as mesmas espécies, os
chamados sinônimos", afirmou Costello. As baleias e golfinhos, por
exemplo, apresentam em média 14 diferentes nomes científicos para cada espécie,
em geral dadas por pesquisadores diferentes que estão trabalhando com o mesmo
bicho sem saber. Quando esse problema é percebido, fica valendo o nome que foi
publicado primeiro.
A partir da exclusão dos sinônimos, cerca de 40 mil
espécies foram retiradas da base de dados que forma o Worms, apesar de seus
nomes científicos continuarem disponíveis para a consulta no site.
"Pela primeira vez podemos fornecer um olhar
detalhado sobre a riqueza de espécies marinhas. Nunca soubemos tanto sobre a
vida nos oceanos", afirmou Ward Appeltans, colaborador do projeto e membro
da Comissão Intergovernamental de Oceanografia, órgão ligado à Unesco.
A partir do levantamento das quase 215 mil espécies
já catalogadas pelo Worms, pesquisadores estimam que o número total de espécies
que habitam os oceanos possa chegar a até 1 milhão. Até a publicação desse
estudo, estimativas costumavam apontar para números muito maiores.
A pesquisa fornece um ponto de referência para
esforços de conservação e estimativas de taxas de extinção, afirmam os
pesquisadores. Eles esperam que a grande maioria das espécies desconhecidas --
principalmente pequenos crustáceos, moluscos, vermes e esponjas --- seja achada
ainda neste século.
"Apesar de menos espécies viverem nos oceanos
do que na terra, a vida marinha apresenta linhagens evolutivas muito mais
antigas, fundamentais para a nossa compreensão da vida no planeta", disse
Appeltans. "Em certo sentido, o Worms é só o começo."
Appeltans ainda ressaltou a importância do trabalho
colaborativo dos cientistas na construção do projeto. "Esse banco de dados
nos fornece um exemplo de como outros biólogos também podem colaborar para
produzir um inventário coletivo de toda a vida na Terra", diz Appeltans.
Fonte: clube do mergulhador